Análise da obra de Barragán

09/05/2010 10:54


    O projeto em questão se conceituará na teoria pós-moderna de Kenneth Frampton que defende o Regionalismo Crítico, insurgido da insatisfação do arquiteto perante a idéia de universalização cultural. O “Regionalismo Crítico” é, tal como a expressão diz, “a promoção de valores de registro local (Regionalismo), ao nível da linguagem internacional (Crítico). A proposta dessa concepção é agrupar valores importantes do Estilo Internacional Moderno com os mais ricos valores culturais regionais, ou seja, o vernáculo.

“ Esta noção de “Regionalismo Crítico” considero-a particularmente importante para a definição de uma arquitectura deste tempo, na medida em que só com o conhecimento e a percepção dos valores regionais e internacionais é possível conceber uma arquitectura moderna alheia a linguagens, a movimentos e a modas.”(https://palavras-arquitectura.com/tag/kenneth-frampton/

Para entender melhor a concepção regionalista analisarei brevemente a obra de Barragán, nascido na segunda maior cidade do México, Guadalajara, em 9 de março de 1902. Engenheiro por formação graduado em 1924 pela Escuela Libre de Ingeniería de Guadalajara, Barragán assinou suas obras, alternativamente, como engenheiro, arquiteto e arquiteto-paisagista.

Seus projetos são bastante expressivos, pois o arquiteto considerava a arquitetura vernacular da região mexicana e usava a tecnologia disponível na época para compô-los. O resultado dessa preocupação com o regionalismo mexicano criou uma identidade sólida para os projetos de Barragán que se tornou um dos grandes arquitetos inovadores do século XX. 

A casa de Gilardi é um dos projetos mais importantes do arquiteto. Está localizada na Colonia São Miguel Chapultepec na Cidade do México. Construída em 1975.  

           A casa possui algumas características modernas pela simplicidade da sua fachada, por sua planta baixa e pelo emprego da platibanda, mas em contrapartida, o arquiteto respeita a topografia do local criando vários níveis e acessos que fazem com que o interior se comunique com o exterior, as cores vivas e fortes caracterizam sua arquitetura como, “sensual e mundana”, além da vegetação exuberante e nativa. Para Frampton, Barragán fazia“(...) uma arquitetura firmada na rocha vulcânica (...) uma arquitetura que remete apenas indiretamente à estância colonial mexicana.” Complemento ainda que seu projeto possui um caráter, um significado que nos remete à memória da região e das experiências de vida do próprio arquiteto.

 Mas não é só o exterior que nos conecta à essa riqueza de memórias e simbologias. No interior da Casa Gilardi há a preocupação com a combinação de cores e com a iluminação. O projeto possui somente aberturas necessárias para obter uma boa iluminação, algo desejado pelo arquiteto, que faz uma crítica aos excessos de vidros das construções modernas “(...) os arquitetos estão se esquecendo da necessidade de meia luz, a espécie de luz que infunde tranqüilidade nas salas de estar e nos quartos de dormir”.Concluo que apesar do arquiteto usar cores fortes e marcantes as quais poderiam deixar o ambiente pesado e cansativo, há o emprego da luz que evita a reflexão dessas cores, deixa o ambiente vivo e ao mesmo tempo tranqüilo.

Barragán conheceu o ápice do Estilo Internacional e mesmo assim não deixou de lado suas raízes e seu passado. Possuiu um espírito nacionalista forjado que construiu a essência de sua arquitetura. Mesmo que não fora reconhecido tanto quanto merecia em sua época, este deixou raízes e exemplos significativos de uma arquitetura híbrida, extremamente singular.