“A Concepção Arquitetônica e a Tecnologia”

06/04/2010 17:21

 

Hoje em dia o termo tecnologia é bastante usado para demonstrar algo novo, capaz de ultrapassar os limites do conhecimento humano, até como aspecto indispensável na arquitetura pós-moderna. Embora a tecnologia seja um dos fatores primordiais nas construções atuais (geram leveza, viabilidade das soluções arquitetônicas, menos custos na obra, produção em série, e várias outras vantagens tanto formais quanto funcionais), não podemos esquecer que desde a antiguidade - até menos que isso - os grandes arquitetos/engenheiros já utilizavam tecnologia nas construções dos grandes templos pagãos, casas de banhos, edifícios públicos, etc.          

Os equipamentos que foram inventados para ajudar os escravos nas construções das pirâmides eram uma grande inovação tecnológica para a época, pois facilitavam a mão de obra e diminuía o tempo de construção. Mais tarde, nas igrejas católicas, percebemos claramente a evolução do emprego do arco que gerou a verticalização dos templos, uma das principais características da belíssima arquitetura gótica. No renascimento, várias das técnicas construtivas da antiguidade clássica foram adotadas, mas agora com ornamentos, utilizando formas diferentes e acima de tudo empregando de uma tecnologia estrutural capaz de vencer vãos ainda maiores que os dos templos pagãos.

Até o renascimento a tecnologia ainda era conhecida por poucos, mas depois da revolução industrial o cenário da construção mudou bastante. No século XIX já existiam poucos artesãos e muitos operários que trabalhavam nas indústrias de pré-moldados e de fabricação em série. Os ornamentos passaram a ser descartados e alguns arquitetos como Otto Wagner começaram a usar o vidro e o aço. Estruturas de concreto armado também entraram em vigor nessa época, proporcionando grandes balanços nos galpões de carga e descarga de mercadoria. A partir daí não só a arquitetura que utilizou dessas novas tecnologias, mas também muitos designers como Richard Riemerschmid inovaram com a produção em massa de cadeiras, mesas, conjuntos de chá, etc. Um grande marco da histórica da arquitetura do século XIX foi o Palácio de Cristal, construído para a grande exposição de 1851. A construção de Joseph Paxton, era totalmente pré-moldada e foi capaz de marcar o afastamento dos estilos arquitetônicos históricos. 

Com esse avanço tecnológico surgiram no final do sec. XIX início do XX, vários arquitetos que propunham descartar totalmente os ornamentos do renascimento e do barroco com o objetivo de formar uma nova arquitetura, leve, com uma planta livre, sob pilotis, integrando o interno com o externo através de grandes vãos, diferente daquilo que muitos estavam acostumados a ver e utilizar. O estilo internacional ou arquitetura moderna era totalmente tecnológica, independente do lugar, das suas características vernaculares e cultura. Alguns arquitetos como Mies Van de Rohe, Frank Lloyd Wright e Le Corbusier inovaram com diversas formas de tecnologia capazes de fazer, uma arquitetura singular e inovadora.

Como tudo na vida tem suas vantagens e desvantagens, a arquitetura moderna não estava isenta disso. Alguns arquitetos como Robert Venture, Aldo Rossi e posteriormente Luis Barragán, começaram a desenvolver teorias contra o estilo moderno e a partir de 1950, propostas de arquitetura vernacular vinculadas às diferentes formas de utilização da tecnologia foram tecendo a história da pós-modernidade.

Hoje sabemos que a tecnologia é fundamental para as diversas soluções arquitetônicas e é a parir dessas soluções que o homem adapta ás diversas dificuldades cotidianas, como insolação, falta de água, racionamento de energia elétrica, ventilação e iluminação. Enfim, hoje o arquiteto possui a arte de desenvolver inúmeras soluções viáveis, inteiramente tecnológicas, capazes de garantir, sustentabilidade, economia e acima de tudo a satisfação dos seus clientes.

"Haverá, para alguns, algumas soluções até inexplicáveis, como haverá os que reconhecem que o melhor se apresenta sem explicação. Haverá ainda, por isso, uma arquitetura que inaugura 'uma nova lógica' e que, inclusive, poderá ser 'feita até de arquitetura', ou melhor de 'elementos' que a arquitetura utilizou para suas novas sínteses ou 'novas lógicas' espaciais, para não dizer apenas, as novas lógicas do viver que cada obra de arte instaura" (MOTTA, Flávio. Op. cit. (1970), p. 26.)

 

                                                           Lana Vanessa Rodrigues Costa